Ocupa Silo estimula a vida artística e cultural do Vale Paraíba e Serra da Mantiqueira

Com alegria e grande participação do público, o festival uniu expressões locais e contemporâneas em uma rede viva de artistas locais

Os dias 5 e 6 de julho, a Silo – Arte e Latitude Rural, localizado na Serrinha do Alambari, em Resende (RJ) foi palco de mais um Ocupa Silo, o Festival de Cultura Tradicional e Contemporânea do Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira, que reuniu manifestações locais, populares e contemporâneas em um encontro gratuito e aberto ao público. Por estarmos no mês de julho, desta vez a ação ganhou formato de Arraiá e foi marcada por muita celebração à arte e cultura local em um ambiente acolhedor e construído coletivamente para o bem estar de todas/es/os, pela integração de várias linguagens artísticas e pelo fortalecimento da economia regional.

As ações da Silo propõem uma imersão no fazer conjunto e convidam a todas/es/os a não só prestigiarem, mas, também, a colaborarem com o espaço. Cerca de 30 artistas passaram pelo festival que atraiu um público de quase 300 pessoas no fim de semana.

Uma das grandes características da Silo é oferecer momentos de encontro entre os fazedores de arte de uma região ao cruzar os caminhos desses artistas, abrindo o olhar de todas/es/os para a potência cultural local. No Ocupa Silo não é diferente. Nos dois dias de ação, os artistas se viram em um lugar rico em possibilidades de articulação para potencializar o cenário cultural do Vale do Paraíba e Serra da Mantiqueira.

“Trazer a pesquisa em teatro para o Ocupa Silo me possibilitou estar compartilhando nossas produções artísticas e ao mesmo tempo também fruir da criação de outros artistas e coletivos. A sede da Silo é um espaço extremamente acolhedor e estimulante para esta troca. Perceber que ao mesmo tempo que estamos no meio das montanhas da Mantiqueira, também estamos compartilhando produções artísticas que não devem em nada aos grandes centros urbanos culturais e isso é um privilégio para nós, um estímulo coletivo de trocas e incentivo” comenta Takna Formaggini, Professora Mestra de Teatro do Instituto Federal do Rio de Janeiro, onde coordena o Laboratório de Pesquisa-Extensão em Teatro (Labex Teatro) do IFRJ campus Resende.

Sábado, 5 de julho

O primeiro dia do Ocupa Silo foi intenso. A jornada começou com a exibição do documentário Farinha do Pinhão: Uma Herança da Mantiqueira, seguido de uma roda de conversa com as guardiãs da produção da farinha de pinhão e Arasy Benitez, idealizadora e produtora executiva do filme.

Guardiãs do saber ancestral da produção da farinha de pinhão Guardiãs do saber ancestral da produção da farinha de pinhão da Serra da Mantiqueira e Arasy Benitez, idealizadora e produtora executiva do documentário “Farinha do Pinhão: Uma Herança da Mantiqueira”, compartilham experiências e conhecimentos técnicos com o público do Ocupa Silo. Foto: Kamay

Depois, aconteceu o lançamento do livro A Cruz e a Espada: uma reflexão das políticas indigenistas e seus impactos no Vale do Paraíba - XV ao XVIII, do autor Enio S. C. de Oliveira, com a participação de Angelo de Paula, autor de Escravidão indígenas nos sertões da Paraíba Nova. A programação seguiu com oficinas criativas conduzidas por Cecília Bianco, Contação de histórias com Gabriel Sant’ana, Arte sonora a partir da criação de Zumbido e peça teatral Toda Nudez – Excertos de uma Experiência Obsessiva do Coletivo Labex Teatro. A noite foi finalizada ao som de Fogueira Doce e de sanfoneiro Dedé, que trouxeram alegria e ritmo através do forró.

Fogueira Doce e sanfoneiro Dedé cativam o público do Ocupa Silo através do som envolvente do Forró Fogueira Doce e sanfoneiro Dedé cativam o público do Ocupa Silo através do som envolvente do Forró. Foto: Kamay

Cecília Bianco levou cores, criatividade e brincadeiras ao gramado da sede da Silo, envolvendo crianças, jovens e adultos em uma experiência de descoberta coletiva. Sua proposta convidou cada pessoa a explorar as possibilidades de criação - sendo ou não sendo artista - a partir do encontro com o outro e com a Natureza, além disso procurou aguçar a percepção de que há criatividade nos processos cotidianos.

As oficinas criativas também são atividades que trabalham a confiança e o estímulo. Ao caminharem pelo gramado da Silo, de olhos fechados, e com ajuda dos outros participantes, cada integrante era convidado a descobrir o ambiente natural e se conectar com o entorno através de um olhar sensibilizado e grato.

As atividades rolaram de 14h às 17h e foram vividas com muita entrega do início ao fim, tanto pelas crianças quanto pelos adultos que se permitiram brincar. “O elo geracional é importante no sentido da gente inverter um pouco os papéis. […] Como adulto, a gente se permite enxergar o mundo a partir da criança. A gente se permite se encantar com um novo descobrimento, a gente se permite se sensibilizar com as miudezas e belezas que nos circundam”, explica a educadora e artista Cecília Bianco.

Cecília Bianco atrai crianças, jovens e adultos no gramado da sede da Silo, gerando uma coletividade intergeracional interessada por criação e arte Cecília Bianco atrai crianças, jovens e adultos no gramado da sede da Silo, gerando uma coletividade intergeracional interessada por criação e arte. Foto: Kamay

Gabriel Sant’Anna, Contador de Histórias, apresentou uma apresentação com proposta semelhante à de Cecília Bianco: reunir diferentes gerações em torno da imaginação. Por meio do canto, da narração e da interação, Gabriel conduziu o público a fechar e abrir os olhos e sentir a partir de imagens evocadas. “Abra os olhos, abra o nariz e principalmente o coração”, disse o artista durante a apresentação.

O espetáculo foi inspirado em três histórias retiradas da obra Solo de Histórias – contos daqui, ali e de toda parte, escrita por ele em parceria com Martha Paiva do grupo carioca Cia do Solo

Gabriel Sant'Ann, Contador de História, em apresentação solo na sede da Silo - Arte e Latitude Rural Gabriel Sant’Ann, Contador de História, em apresentação solo na sede da Silo - Arte e Latitude Rural. Foto: Kamay

Além de todas as apresentações, a cozinha do Ocupa Silo ofereceu comidas típicas de arraiá (canjica doce, curau e caldos) e quentão, que aqueceram os corações de quem participou.

“Amei o lugar, os caldos e o quentão maravilhoso! Pura Arte!”, escreve Cida Lisboa para o instagram da Silo - Arte e Latitude Rural.

Domingo, 6 de julho

A programação do segundo dia (6) manteve o mesmo brilho. Como pede um bom domingo, o encontro começou com o tradicional Show de Prêmios, brincadeira muito apreciada pelos moradores da Serrinha, depois à mesa, com uma refeição familiar. A cozinha do Ocupa Silo serviu um prato típico afro-brasileiro: a feijoada, nas versões tradicional e vegana. A partir daí, o dia seguiu como prometido, com as apresentações de Otton Maciel e Hilton Fonseca; de Gabriel Sampaio e da emocionante roda de jongo de Pinheiral. Após Otton Maciel narrar poesias caipira, seu Hilton Fonseca, acompanhado de outros dois músicos, levados através dele, celebraram a tradição da música caipira. O momento foi tão especial e convidativo que outros artistas se juntaram espontâneamente, fazendo germinar uma apresentação única cheia de trocas e improvisos.

Seu Hilton e convidados animam o público do Ocupa Silo, mostrando a musicalidade e a inteligência da cultura caipira Seu Hilton e convidados animam o público do Ocupa Silo, mostrando a musicalidade e a inteligência da cultura caipira. Foto: Kamay

O Ocupa Silo encerrou a ação com o Jongo de Pinheiral, manifestação cultural afro-brasileira herdada de ancestrais negros escravizados nas fazendas de café do período colonial. O público foi, primeiro, convidado a ouvir um trecho da história de resistência do Brasil que é pouco contada. Em seguida, assistiu a uma abertura típica, dedicada a saravar o terreiro. Depois, todas/es/os foram chamados a entrar na roda e aproveitar a força ancestral do jongo. “O Jongo é memória. Eles se organizavam para fugas, para cantar saudades da áfrica, para namorar… tudo acontecia nas rodas de Jongo, nos terreirões em frente à senzala ao lado de uma fogueira. E nós fazemos isso até hoje, buscando políticas públicas para o nosso povo, buscando melhores condições de trabalho, buscando oportunidades para os nossos jovens nas universidades… Tudo isso a gente faz através do Jongo”, explica Fatinha, representante do Jongo de Pinheiral

Ocupa Silo encerra a programação com a apresentação do Jongo de Pinheiral, que proporcionou um momento de celebração ancestral com muita diversão e integração do público Ocupa Silo encerra a programação com a apresentação do Jongo de Pinheiral, que proporcionou um momento de celebração ancestral com muita diversão e integração do público. Foto: Kamay

O Ocupa Silo é um convite constante de ocupação do espaço da Silo - Arte e Latitude Rural por parte da população local a fim de fortalecer o vínculo com o território, tanto no seu sentido simbólico quanto geográfico.” Esse espaço de ocupação tem acolhido manifestações artísticas de qualidade e funciona como estímulo para a continuidade destes projetos e também o fortalecimento e reconhecimento da produção cultural rural local”, conclui a professora Takna Formaggini.

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