Resiliência: Residência Artística – Arte e Agricultura 2023
03 Abril - 2023
Resiliência: Residência Artística – Arte e Agricultura 2023
O que se pensa sobre o universo camponês da atualidade e o que é pensado a partir dele?
Cinthia Mendonça
Por meio desta chamada, a Silo - Arte e Latitude Rural convida artistas e curadores de origem camponesa, residentes no campo ou que realizam pesquisa e/ou que tenham uma produção sobre aspectos da Agricultura e do Mundo Rural a se inscreverem na Resiliência: Residência Artística | Arte e Agricultura que acontecerá de 23 de julho a 20 de agosto de 2023 na sede da Silo, Serra da Mantiqueira. A residência oferece imersão para pesquisa e experimentação artística voltada para artistas e curadores, promovendo o encontro destes com cientistas, agricultores e a população camponesa.
Calendário
Abertura da Chamada: 03 de abril
Encerramento da Chamada: 15 de maio
Residência Artística: 23 de julho a 20 de agosto de 2023
Agricultura, crise climática e crise cultural
Vivemos uma crise climática, mas também cultural, que nos exige transformações nos modos de pensar e agir. A mudança que queremos reúne desenvolvimento humano e ambiental; respeita e cultiva diferentes modos de existência; cria, preserva e regenera biodiversidades. O campo e o campesinato - baseados na negociação constante entre diversos modos de existência - estão no centro dessa mudança e dessa disputa cultural.
No momento em que se percebe que as cidades brasileiras estão cada vez mais longe de serem sustentáveis, apresentando formas agudas de colapso econômico, arquitetônico e sanitário, muitas pessoas dirigem o olhar para o campo buscando um modo de vida mais saudável e sustentável.
Do campo e do campesinato vem nossa energia vital. A qualidade do alimento que consumimos está diretamente relacionada à qualidade de vida daqueles que cultivam esse alimento. Então, mais do que nunca, os saberes e os modos de vida do campesinato e dos povos que vivem na natureza precisam ser respeitados, cuidados e preservados. Suas histórias precisam ser contadas e suas práticas continuadas.
Com a explosão da agroindústria no país, em um desdobramento tecnológico da matriz latifundiária e exportadora que marca nossa história colonial, qual o espaço do camponês no imaginário brasileiro? O que aconteceu com os modos de vida do campo? No que terá se transformado o que entendemos como o meio rural?
Objetos da convocatória
A Resiliência: Residência Artística pretende criar, ao longo dos anos, narrativas sobre o universo rural/ambiental da atualidade por meio das Artes. Ela possibilita uma vivência geográfica, focada na experiência territorial, na cotidianidade, nos biomas regionais e no campesinato. A imersão oferece uma experiência que se diferencia da vida urbana, além de favorecer um ambiente propício para a troca de saberes incentivando, de um lado, que a ciência e a agricultura possam se transformar a partir das referências e modos de pensar e fazer da arte e, de outro, que a arte possa ter voz ativa em debates de grande impacto da sociedade como as questões científicas, agrícolas e agrárias.
Para a atual residência, gostaríamos de reunir pessoas que, por meio de experiência, pesquisa e/ou produção, possam contribuir com a reflexão sobre arte, agricultura, campesinato e sociedade.
Sendo assim, nos interessa abordagens de diferentes aspectos da agricultura e da vida no campo a partir da ética, da estética e do poético: transição agrícola (1) ou transição rural justa; crise alimentar, climática e energética; sistemas agroalimentares; reforma agrária; ocupação social de espaços/territórios rurais; o arcaico, o futurismo; o material, o espiritual; culinária; cultura popular; ancestralidade; educação no campo; cultura da autonomia; gestão do bem comum; ruralidades; cultivos (de animais e plantas); compostagem; microfauna; processos químicos-físicos; a vida das plantas, dos animais, da terra e a nossa vida; florestas e biomas; solos; fenômenos naturais; processos regenerativos; sintropia; entre muitos outros.
(1) Transição agrícola ou transição rural justa se refere a um processo de alternância de modelo de cultivo. Isto é, uma mudança de uma agricultura não sustentável e exploratória (intensiva ou extensiva) que faz uso de agrotóxicos, explora, sem regenerar a fertilidade da terra, investe em monoculturas, latifúndios, explora injustamente a força de trabalho camponesa, para um modelo sustentável, agroecológico que presa pela saúde pra quem planta e de quem consome, em prol da reforma agrária e da justiça social.
Metodologia
A imersão acontece em um período de 28 dias, um ciclo lunar.
A residência é composta por visitas a assentamentos e espaços produtivos da agricultura familiar regional; expedições na região da APA da Serrinha do Alambari e no Parque Nacional do Itatiaia, além da participação no programa CaipiratechLAB.
A residência oferece espaços de criação e pesquisa (atelier ou studios compartilhados); conversa com curadores, cientistas, pesquisadores e agricultores.
Durante a estadia, as/os/es residentes poderão dialogar com o curso do programa CaipiratechLAB, voltado para agricultores da região, uma iniciativa da Silo Escola, linha de ação da organização que se dedica a oferecer processos formativos.
No final da residência realizamos uma mostra com as pesquisas, processos e trabalhos desenvolvidos. Após a residência será realizada uma publicação com a documentação do processo e resultado dos trabalhos.
Recursos
A residência ocorrerá entre os dias 23 de julho e 20 de agosto de 2023. Cada pessoa selecionada receberá: passagens - ida e volta - de seu local de origem, alojamento privado ou compartilhado, estúdios compartilhados, alimentação gratuita e a quantia de R$2.000,00, materiais disponíveis em nosso laboratório, expedições territoriais, conversa com curadores, cientistas, pesquisadores e comunidade local, comunicação e divulgação dos artistas em residência (website e redes sociais). Ao final da residência publicaremos um livro impresso e digital sobre as pesquisas realizadas.
Acesse aqui a página com respostas às perguntas mais frequentes.
Inscrições
As inscrições para a residência serão feitas exclusivamente através do email: contato@silo.org.br. No assunto do email deve constar: Inscrição - Resiliência: Residência Artística - Arte e Agricultura. Emails sem assunto ou com assunto diferentes serão desconsiderados. O email deve conter 1 arquivo em formato PDF com:
- Proposta artística (máx 1 página A4)
- Plano de trabalho, desenhos, esquemas e etc (imagens e texto máx. 3 páginas A4)
- Portfólio incluindo dados pessoais e contato: nome; gênero, raça, bairro, cidade e estado; nacionalidade; data de nascimento (ou idade); email e telefone de contato (telegram ou whatsapp).
- Link da homepage, redes sociais e demais referências, caso houver.
- Carta de intenção.
O processo seletivo irá considerar o envio de material completo, alinhamento da proposta artística à proposta da residência, conteúdo da carta de intenção; buscar equidade de gênero, raça ou etnia e diversidade de localizações geográficas (embora os valores das passagens aéreas determinem as reais possibilidades).
Serão aceitas propostas enviadas em português.
O processo seletivo será realizado pela artista Cinthia Mendonça e pelo curador Icaro Ferraz Vidal Jr.
Obrigações das pessoas selecionadas
As pessoas selecionadas se comprometem a participar da residência durante todo o período proposto, assim como da publicação do livro.
Locais e contexto
A Serrinha do Alambari é parte integrante de uma Área de Proteção Ambiental (APA), situada no município de Resende (RJ), na encosta leste do Parque Nacional de Itatiaia, Serra da Mantiqueira. Esta área tem a particularidade de integrar zona rural e zona de proteção ambiental. A Serrinha conta com cerca de 1.000 habitantes, comércio e atividade turística. A APA (Área de Proteção Ambiental) da Serrinha do Alambari abrange as comunidades de Serrinha e Capelinha, protegendo a parte alta das microbacias dos rios Alambari e Pirapitinga. Sua área total corresponde a 4.500 hectares.
O Planalto do Itatiaia está localizado dentro do território do Parque Nacional do Itatiaia. Primeiro Parque Nacional do Brasil, criado em 1937, situado na Serra da Mantiqueira, o Parque Nacional do Itatiaia possui cerca de 28 mil hectares que abrange os Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais apresentando um relevo caracterizado por montanhas e elevações rochosas, com altitude variando de 600 a 2.791 m, no seu ponto culminante, o Pico das Agulhas Negras. Na região do Planalto do Itatiaia, encontram-se os campos de altitude e os vales suspensos. A área do Parque guarda nascentes de 12 importantes bacias hidrográficas regionais, que drenam para duas bacias principais: a do rio Grande, afluente do rio Paraná, e a do rio Paraíba do Sul, o mais importante do Rio de Janeiro.
Os Assentamentos da reforma agrária e demais unidades produtivas coletivas ou comunitárias que serão visitadas durante a residência fazem parte do mapeamento realizado pelo programa CaipiraTechLab e estão localizadas dentro de nossa área de atuação: Vale do Rio Paraíba, Serra da Mantiqueira, Serra do Mar, Serra da Bocaina e Vale do Café.
Política de Salvaguarda e Código de ética
Os participantes selecionados concordam, no ato da inscrição, com a leitura e adesão à Política de Salvaguarda e ao Código de Ética e Conduta da Silo - Arte e Latitude Rural, comprometendo-se a adotar durante todo o processo formativo os compromissos estabelecidos nos referidos documentos.