SEMINÁRIO CULTURA E ARTE EVIDÊNCIA GESTÕES INOVADORAS E TERRITORIALIZADAS

SEMINÁRIO CULTURA E ARTE EVIDÊNCIA GESTÕES INOVADORAS E TERRITORIALIZADAS
Realizado na Casa Firjan, o evento apresentou práticas criativas de gestão cultural que acontecem no estado do Rio de Janeiro, adaptadas às particularidades de cada território.

Reunindo pesquisadores, professores, gestores culturais, artistas e profissionais da comunicação; o seminário Cultura e Arte ocupou a Casa Firjan, no Rio de Janeiro, em 12 de setembro. A programação trouxe reflexões sobre território, diversidade e gestão cultural do Rio de Janeiro, além de provocar debates sobre políticas públicas e os rumos da cultura na era digital. O seminário inaugurou uma agenda anual que tem o intuito de inovações, estudos e pesquisas acerca da cultura e arte do país.

O encontro também foi marcado pelo lançamento do livro “Gestão Cultural, Território e Diversidade”, fruto de parceria entre Firjan Sesi, Observatório de Favelas, Unirio e Lactus. A publicação apresenta experiências de oito instituições do Estado do Rio de Janeiro que são enraizadas em seus territórios e que desenvolvem metodologias e tecnologias próprias para atender demandas locais. As instituições estudadas foram: Silo - Arte e Latitude Rural, Balaio Cultural, EncontrArte, Casa de Artesanato - ACIGUA, Coletivo Ponte Cultural, Franproduz!, Quilombo São José da Serra e Rio Parada Funk.

Vinicius Cardoso, diretor de Educação e Cultura da Firjan SENAI SESI, e Antenor Oliveira, gerente de Cultura e Arte da Firjan SESI, abriram o evento às 9h. Em seguida, ocorreu a apresentação institucional do SESI - Departamento Nacional, conduzida por Claudia Ramalho, superintendente de Cultura, e Paula Bosso, gestora nacional da Política de Cultura.

As falas de abertura destacaram a satisfação pela realização do encontro, resultado de um longo trabalho conjunto. Também reforçaram o compromisso das instituições em promover debates e articular profissionais da cultura e da arte na contemporaneidade, ressaltando a importância de integrar a cultura aos territórios e suas realidades. Por fim, incentivaram uma visão ampliada de economia, reconhecendo a cultura como um vetor econômico que se fortalece com a atuação colaborativa de gestores culturais.

Painel de entrada do seminário Cultura e Arte, realizado na Casa Firjan - Rio de Janeiro

A primeira mesa, intitulada “O papel das pesquisas e estudos na formulação de caminhos para a Gestão Cultural”, reuniu Joana Afonso Siqueira, Consultora de Estudos e Pesquisas da Firjan e assessora do Conselho Empresarial de Indústria Criativa; Lia Baron, Professora de Artes e Cultura da UFF; e Manoel Silvestre Friques, Professor de Engenharia de Produção da Unirio, de Pós-Graduação em Artes da Cena da UFRJ e de Pós-Graduação em Memória Social da Unirio. Os painelistas destacaram o momento atual como um cenário de retomada cultural, em continuidade ao trabalho iniciado nos anos 2000, quando o fazer artístico passou a valorizar manifestações e demandas locais e identitárias. Esse movimento, segundo eles, tem possibilitado o surgimento de gestores que desenvolvem métodos e aplicam tecnologias específicas para cada território.

Durante a mesa, destacou-se também o uso de dados como ferramenta de fortalecimento da indústria criativa, permitindo analisar novos hábitos de consumo cultural e artístico e otimizar estratégias. O debate incluiu ainda a apresentação dos livros Pacto Cultural – produzido pela Firjan SESI, SESI, Arte e Fato e UFF, publicado em 2023 - e Gestão Cultural, Território e Diversidade, lançado neste ano.

Na parte final da primeira mesa, Manoel Silvestre Friques pontuou o trabalho de universidades e de instituições, como o Observatório de Favelas, na produção de dados e mapeamentos que apoiam gestores e agentes culturais na organização de suas próprias narrativas e produções. Convidou ainda a refletir que a criatividade não se limita aos produtos artísticos: ela também se expressa nas práticas de gestão, que podem inspirar e influenciar políticas culturais; e propôs a ampliar o olhar para pensar a engenharia cultural.

Mesa “O papel das pesquisas e estudos na formulação de caminhos para a Gestão Cultural” composta por Joana Afonso Siqueira, Lia Baron e Manoel Silvestre Friques

A mesa “O futuro da cultura e da indústria audiovisual na era digital”, com Antenor Oliveira, Especialista em Gestão Cultura; Ivana Bentes, pró-reitora de Extensão da UFRJ e presidenta do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras; Pedro Tourinho, Comunicólogo e empreendedor de Comunicação e Julia Zardo, Doutora em Políticas Públicas, Estratégia e Desenvolvimento pelo Instituto de Economia da UFRJ; apresentou um panorama do novo consumidor cultural, destacando como as transformações sociais redefinem hábitos e perfis de consumo. Os painelistas mostraram a importância de entender como as pessoas consomem cultura nas redes sociais. Um dado curioso compartilhado pelos participantes mostrou que o Instagram é usado como canal de entretenimento e se consolidou como uma das maiores fontes de acesso a atividades culturais.

A conversa também abordou o funcionamento dos algoritmos, a formação de bolhas culturais e os desafios para rompê-las, além de destacar a regulamentação como medida essencial diante do avanço da Inteligência Artificial e da necessidade de democratizar o acesso à cultura.

Após o almoço, às 14h, o Seminário retomou as atividades com a mesa “Pacto pela Cultura”, que reuniu Geórgia Nicolau, Cofundadora e diretora-executiva do Instituto Procomum; Fernando Mencarelli, presidente do Fórum de Gestão Cultural das Instituições Públicas de Ensino Superior e professor da UFMG; Luciana Adão, especialista em inovação cultural; e Luisa Hardman, Coordenadora-Geral de Fomento na Fundação Nacional de Artes (Funarte); sob mediação de Lia Baron. O encontro ressaltou a importância dos diferentes agentes da sociedade civil na retomada das políticas públicas e das pesquisas sobre cultura, além da atuação de instituições que produzem dados, mapeamento e debates voltados ao futuro das políticas culturais do país.

Após a mesa “Pacto pela Cultura”, o evento fez nova pausa para descanso, lanche e preparação para a parte final, composta pela mesa “Gestão Cultural, Território e Diversidade no Rio de Janeiro”, seguida da apresentação de jongo do Quilombo São José da Serra, de Valença (RJ).

As discussões ressaltaram a necessidade de uma engenharia cultural renovada por dinâmicas territoriais e identitárias, voltada à democratização do acesso e à promoção da justiça social. Em seguida, a programação trouxe exemplos de instituições da sociedade civil que demonstram, na prática, como esse caminho é possível e transformador.

Painel: Gestão Cultural, Território e Diversidade no Rio de Janeiro

O livro “Gestão Cultural, Território e Diversidade” reúne experiências de oito instituições profundamente ligadas aos seus territórios, que criam metodologias e tecnologias próprias para atender demandas locais. O livro foi lançado durante o Seminário, em uma mesa mediada por Rebeca Brandão, com a participação de Cinthia Mendonça (Silo – Arte e Latitude Rural), Claudina Olivêira (EncontrArte), Almir Gonçalves (Quilombo São José da Sera) e Mateus Aragão ( Rio Parada Funk). A conversa começou às 16h15 e marcou a finalização das mesas.

Cinthia Mendonça, Claudina Olivêira, Almir Gonçalves, Mateus Aragão e Rebeca Brandão após a realização da mesa “Gestão cultural, território e diversidade no Rio de Janeiro”

De acordo com Rebeca Brandão, o livro pode ser compreendido com um manual para pensar políticas culturais a partir de métodos e tecnologias que são desenvolvidas por pessoas gestoras de organizações da sociedade civil em comunidades territorializadas do Estado do Rio de Janeiro.

Antes de dar início às falas dos painelistas, Pedro, da Aldeia de Paraty Mirim, enfatizou a importância do trabalho de fortalecimento cultural dentro da comunidade, seguido por um momento de canto indígena que envolveu e emocionou o público.

Após a participação dos representantes indígenas, Claudina Olivêira, da EncontrArte, em Nova Iguaçu (Baixada Fluminense), apresentou os projetos da instituição e os resultados da escola audiovisual criada pelo grupo. Emocionada, não conteve as lágrimas ao relatar a trajetória da organização e as vidas transformadas por seu trabalho. Claudina Olivêira comentou que quanto maior o acesso e o consumo de arte, menor a incidência de crimes de ódio.

Em seguida, foi a vez de Almir Gonçalves, do Quilombo São José da Serra, em Valença (RJ). O painelista apresentou a história de sua comunidade a partir das memórias transmitidas pelos antepassados, destacando que o quilombo é o mais antigo do estado e uma referência na tradição da roda de jongo. Almir explicou que o tambor funcionava como meio de comunicação quando as vozes do povo negro eram silenciadas, permitindo que pessoas escravizadas se conectassem por meio do batuque. Hoje, o jongo segue como instrumento de resistência, além de ser uma forma de reivindicar políticas públicas para a comunidade.

O Quilombo de São José da Serra realiza uma das maiores festas quilombolas tradicionais do Estado do Rio de Janeiro; e desde a década de noventa, abre as portas para visitação na comunidade.

Cinthia Mendonça apresentou os programas desenvolvidos pela Silo - Arte e Latitude Rural, destacando a importância da diversidade e das ações que operam na lógica local-global. A diretora também aproveitou para ressaltar o caráter unificador da instituição, que cria pontes entre o campesinato e a cidade, aproximando especialmente das comunidades periféricas; e o aspecto artístico que atravessa a origem, a gestão e execução dos programas - tanto nas metodologias quanto na forma de uso das tecnologias.

Além disso, o público também foi convidado a refletir sobre como os modos de vida que as ruralidades oferecem podem inspirar novas formas de pensar a cultura contemporânea e o futuro.

Cinthia Mendonça, na mesa Gestão Cultural, Território e Diversidade no Rio de Janeiro, apresenta a instituição Silo - Arte e Latitude Rural e suas metodologias de atuação. Ao lado, encontra-se Claudina Olivêira, da EncontrArte.

Por fim, o projeto Rio Parada Funk, idealizado e conduzido por Mateus Aragão, encerrou a mesa. Atuante há 15 anos, a iniciativa oferece um espaço seguro para a criação e o consumo do funk. Durante a conversa, Mateus relatou episódios de opressão policial enfrentados por jovens periféricos nas casas de funk, destacando que a Rio Parada Funk se mantém como um importante instrumento na luta contra o preconceito às manifestações artísticas periféricas.

O Seminário proporcionou um rico panorama sobre a diversidade cultural e apresentou possibilidades de gestões culturais criativas, reunindo experiências de organizações que atuam na periferia, no campo e em comunidades tradicionais; para pensar o futuro da cultura no país. O evento encerrou com a apresentação de jongo da comunidade São José da Serra, celebrando a resistência e a riqueza das tradições afro-brasileiras.

Roda de Jongo do Quilombo São José da Serra, de Valença (RJ), encerra o seminário Cultura e Arte.